Lilith Ultrajada. _Capítulo1:
Lilith acordou com os primeiros raios do Sol, sua cabeça estava pesada, sentia um peso dolorido no peito. Há dias começara a sentir isso, não entendia e não tinha a quem perguntar o que estava acontecendo com ela. Deus estava descansando e Adão, por mais que ela tentasse explicar o que sentia, olhava-a com cara de tonto, dava de ombros e saia pelo jardim do Éden.
Os animais com que conversava não sabiam explicar, as plantas muito menos.
Até orientação pediu à serpente, animal de quem não gostava, e pela qual foi orientada à comer o fruto da árvore proibida, pois todo conhecimento nessa frondosa e majestosa árvore residia.
Conselho que não seguiu. O jeito que a serpente sempre surgia, amaneira como se mostrava solícita e cheia de elogios causavam em Lilith nojo e repulsa.
Fora criada do mesmo barro que Adão e antes dele. Lembrava como ficou estupefata com sua criação e como se apaixonou por ele quando recebeu o sopro divino. Finalmente, teria um ente igual, em beleza e perfeição, pelo menos assim acreditara naquele momento.
Levantou-se e banhou seu rosto em um regato de água cristalina, sorveu um pouco da mesma. Foi á uma videira, pediu licença a orgulhosa planta e pegou um belo cacho de uva. Passou sua língua numa das frutas e com um certo tremor sentiu a textura. Com uma delicadeza angelical, entre os dentes a tirou e ficou a apreciá-la dentro de sua boca.
Após alguns instantes a mordeu e se deixou inundar pelo sabor e pelos líquidos da fruta. Puro gozo. ia começar com outra, quando o colibri chegou frenético, sempre frenético; mal desejou-lhe bom dia e começou a contar as novidades do Paraíso.
Lilith ora ria, ora fazia cara de séria, e estimulando o colibri a falar mais e mais.
Um grunhido o fez se calar, Adão se espreguiçava, havia acordado. O colibri despediu-se mais rápido do que a cumprimentou e ganhou o mundo. Já fora judiado por Adão, com ele não queria nem proximidade, nem assunto, contudo, amava Lilith, sempre terna, amiga e meiga.
Adão levantou-se num pulo, coçou sua genitália, estava com uma ereção grotesca. Dirigiu-se ao regato, quase dando uma ombrada em Lilith, e após alguns segundos começou a nele urinar. Finda sua micção, arrancou um cacho da videira, pôs 3 uvas na boca, mastigando-as de boca aberta, depois cuspiu os caroços de maneira ruidosa. Assim começava seu dia.
Lilith o observava calada, antes achava um charme esse lado primitivo e bestial, esse dom de tomar posse e se declarar dono. Agora não mais, ela poderia fazer o mesmo se quisesse, mas entendia, mesmo que rusticamente, que tudo ali era obra divina e que, se ela merecia respeito, o todo criado também merecia, mesmo que para eles foi feito.
Adão veio abraçá-la, queria sexo, pela primeira vez ela sentiu repulsa; não que ela não sentisse desejo, mas o cheiro dele começou a enojá-la, o peso dele em seu corpo a ofendia e a pressa com que ele acabava não a satisfazia.
Com um safanão se livrou dele e saiu para lugar nenhum, desde que esse lugar nenhum fosse bem longe dele.
Ainda o escutou gritar e ordenar que ela voltasse. Apressou seus passos e sumiu.
Ao tomar boa distância e certificar-se que não era seguida, procurou o rio da vida. Entrou nele até a cintura e deixou-se submergir. O silêncio era um bálsamo para sua fúria, e a beleza da luz filtrada em multicores dentro d'água era um alento para sua alma ferida. pensou em nunca mais sair de lá.
Mas sua índole jamais permitiria ter que se esconder, mesmo que em lugar sublime, ela nascera forte e sua fortaleza negava-lhe o benefício da desistência.
Saiu da água sem a raiva, sentimento que até então não conhecera. Recostou-se em um pedra e as lágrimas vieram pesadas, incontáveis e incontidas. Era a segunda vez que chorava, a primeira foi na criação de seu parceiro. De cada lágrima, ao tocar o solo, surgia uma flor, um amor-perfeito.
O choro foi acabando, sentiu-se estranhamente aliviada e serena. Sabia, instintivamente, que deveria se afasta, não mais por raiva, mas para poder reorganizar seus sentimentos (muitos dele ela nem sabia que tinha).
Ia começar sua jornada, quando levou um susto, a cobra estava ao seu lado, sempre chegava sorrateira. O ofídio perguntou o que estava acontecendo, Lilith que sempre o tratara bem, apesar da antipatia que sentia pelo animal, gritou a todos os pulmões, que se não saísse naquele momento dali, teria sua cabeça por uma pedra fendida.
A serpente, percebeu o risco, e rapidamente sumiu, ia procurar Adão. Ia se vingar dessa ofensa. Iria jogar Adão contra Lilith.
Lilith sentiu uma pontada na consciência, não precisava ter agido assim, contudo, sabia que a serpente, mesmo sendo criação divina, tinha algo perverso e doente. O que não conseguia entender era essa onda de sensações e sentimento que agora a inundava, e não tinha ninguém para acolhê-la e a entender.
A parceira do homem, não sabia e não poderia perceber, mas de criatura da obra divina, ela se transformava, e se tornava algo maior, tornava-se verdadeiramente MULHER.
Altiva, mirou os montes Ararat, iria para lá, iria para se encontrar e para se entender.
Os dias se passaram, Adão inicialmente ficou confuso com a reação de Lilith, ela tão meiga e generosa, sempre com carinhos e palavras meigas, como poderia sumir, sem explicação. Esperou ela voltar, o que não aconteceu. Sentiu medo e solidão, sentiu-se perdido. Precisava do calor do corpo de Lilith, de sua voz doce e seu hálito morno.
A comida perdeu o gosto, as brincadeiras de mau gosto com os animais não mais o satisfazia, suas brincadeiras com o pênis não lhe davam prazer.
A serpente permanecia escondida, observando-o, vendo seu sofrimento crescer. No momento certo iria se aproximar e começar seu jogo.
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Antonio Claudio Druzian (Vassalo das Letras.)
Mito da caverna (recontado) Parte 1
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Mito da caverna (recontado) Parte 1
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Sinto as chamas crepitarem sobre o meu pé e, diante da morte, sorrio. A dor da execração pública termina aqui. E o incômodo passageiro das torturas, em breve, acabará.
Arrancar as unhas, cortar as orelhas, pôr carvão ardente em meu olho esquerdo, eu até entendo. Eu tinha que servir de exemplo. Mas, espetar-me gravetos no saco... Convenhamos, foi exagero.
Maldito o dia em que me percebi tão magro e desnutrido que minhas algemas se mostraram folgadas. Soltar-me delas e escalar o paredão de pedra até que foi fácil. Queria conhecer a Morada dos Deuses, mesmo que esse fosse meu último ato.
Descobri que em mim habitava uma fome maior do que a de alimentos. Era faminto por Conhecimento. Minhas perguntas deixavam meu povo zangado. Uma vez, tive meu nariz quebrado por um sábio mais exaltado. Havia perguntado a ele, porque os deuses tão generosos e amados nos impediam de contar nossas histórias, de cantarmos nossas músicas e até de nos falarmos em grupo? Deu-me uma cajadada bem certeira e de muito efeito, depois me disse que a vontade dos Deuses não se discutia. Que só ele e mais uns poucos da Vontade Divina sabiam, e que com tolos ele não discutiria.
Aprendi, daquele dia em diante, a não mais indagar. Perguntava apenas a mim mesmo e, como não sabia responder, achava-me um perfeito burro.
Muitas coisas me chamavam a atenção e aguçavam minha curiosidade, mas uma em especial aguçava a minha curiosidade. Eram os Deuses!
Nunca os víamos, a não ser sombras de seus movimentos, que apareciam na parede oposta ao grande paredão. Eles lá em cima habitavam. Ouvíamos, raramente, vozes nervosas, as quais não entendíamos, geralmente antes de caírem nossos alimentos e suprimentos. Os velhos sábios afirmavam que entendiam a estranha linguagem e nós simplesmente acreditávamos. Descobri, mais tarde, que éramos enganados pelos “cabeças grisalhas”.
Não posso dizer que tive amigos. Um dia, houve um decreto divino: que a amizade era proibida, pois era uma afronta aos nossos únicos e verdadeiros amigos. Os Deuses. E coitado de quem fosse pego em confraternização. Teria suas mãos arrancadas com lâmina cega - uma vez, vi esse procedimento. Demorou mais de uma hora e meia para amputar o desgraçado – e, além disso, seria obrigado a lamber o caldeirão sagrado (que sempre permanecia fervendo).
O prazer de sentir uma mulher também não tive, nem a entrega aos atos solitários do prazer. Isso só cabia aos Sábios, por ordem divina. E só se entregavam ao coito, sem exceção (os que ainda conseguiam), com a mais bela entre nós, e só quando um de nós porventura falecia. Éramos 786 almas, nunca menos, nunca mais que isso. Vontade Divina.
Um sinal inequívoco que a morte nos visitaria acontecia quando um dos nossos reverendíssimos sacerdotes acordava ereto. Sabíamos que a Ceifadora viria na calada da noite e arrebataria um pecador.
Muitas vezes, dormi assustado, mas parecia que o golpe do cajado e meu silêncio atenuaram a ira do sacerdote e, conseqüentemente de seus companheiros. A seus olhos e aos olhos dos deuses, por minha magreza e obediência, eu não era considerado mau entre os meus.
Lembro-me de um cidadão que foi flagrado de pênis na mão, coitado! Teve sua genitália extirpada e foi jogado dentro do caldeirão.
Os Deuses até que não eram maus. Eles nos davam o necessário, ensinavam-nos a importância de ter pouco para valorizar quando houvesse muito.
Tínhamos como certa a vida após a morte, por orientação dos nossos alvos homens santos. Entendíamos que era questão de tempo até morrermos. Se fôssemos puros e seguíssemos os preceitos dos Deuses, banquetearíamos com eles, e nada mais nos seria negado, fossem prazeres da alma ou do corpo.
Só lembro de uma vez quando todos foram punidos. Deixaram-nos sem alimento, os Deuses, por mais de 30 dias. Soubemos depois que eles foram combater demônios, mas não antes de nos deixar uma mensagem de esperança: que aqueles que neles acreditassem sobreviveriam à tormentosa prova.
Os nossos sábios iluminados, diante da provação, não titubearam. Escolheram entre nós os que deveriam ser imolados. Serviriam aos deuses suas almas e a carne ao nosso povo.
Foram dias de muita carne para nós e sexo e carne para eles. Tinham que restabelecer nosso sagrado número de habitantes.
Acho que me salvei menos por minha fé e mais por minha magreza.
Uma vizinha, que sempre vigiava, teve fim entre dentes esfaimados, coitada!
Valeu a pena, porque muitas surras dessa mulher eu levara. A desgraçada, acorrentada ao meu lado, sempre me surrava para comer meus parcos pedaços de ração; enquanto ela se avolumava, eu, doído e espancado, passava fome.
Ela foi uma das primeiras a ser abatida, quando a fome nos assolou. Roliça e mal falada, muitos gostaram da indicação, e na distribuição de sua carne, eu fui presenteado com uma de suas nádegas. Afinal, depois de tanta humilhação, comi o glúteo da desgraçada.
Como nosso suprimento de lenha também fora negado, comi a carne dela crua, carne de sabor adocicado, macia... Uma delícia.
Quando a fome apertava, sentia muita saudade dela.
Lembro como subi vagarosamente o paredão. Todos dormiam. Se eu fosse pego, jamais chegaria onde queria. As sombras dos deuses não se manifestavam. Sem oposição divina e humana, eu lograria êxito.
Muito sangue e suor eu deixei naquela escarpa.
Atingi êxito na hora em que todos acordavam... Não mais estava entre meus beatos irmãos. Entrara em novo mundo
*
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Uma criança analfabeta passa o dia na rua, pequenos furtos e mendicância, não há comida em casa, apenas maus tratos; as drogas já se inseriram em sua vida, espantam o frio e a fome. Um dia não mais voltará àquilo que deveria ser um lar, encontrará o remedo de uma família na rua. O caminho da marginalidade a levará a crimes maiores e seu fim será precoce, não antes de propagar o mal multiplicado, o mal que foi vítima, o mal que poderia ser evitado.
Um pai morre no corredor de um pronto atendimento. A instituição não tinha medicamentos, não tinha leitos suficientes; os seus médicos (mal remunerados) assim como seus funcionários não dão mais conta do recado, faltam recursos ao hospital público. O defunto por não ter dinheiro, foi morto, pena capital ao miserável. Sem emprego há muitos anos, vivia de bicos, quando não estava embriagado no boteco, pois a caninha saia mais barata e sua vida era insignificante, não valia à pena. Sua mulher ainda não se sabe viúva e seus filhos estão na rua. Talvez, um ou mais não voltem.
O idoso no depósito (com o nome pomposo de asilo) fez uma refeição, o estômago doído, comida vencida. Mas melhor doído do que vazio, às vezes nem comida estragada serviam. Seu companheiro ao lado, fede, não se sabe porque há horas não limpam suas fezes, ou porque as suas feridas estão mais podres. Médico lá nunca viu, nem ao menos enfermeira. Percebe sem ânimo larvas na ferida de seu companheiro. Nem mais a saudade do nordeste sente, fome e frio ainda sente. O que não sabe ele nem o estômago doído é que um dos seus doze filhos em maca de hospital está inerte e frio.
Ah, gordo, culto e bem servido, lá está o funcionário público eleito, dono de vasto império. Fortuna fez em roubalheiras, tem canais de rádio e televisão, dezenas de empresas e até fantasmas como funcionários lhe servem bem. Alimenta-se do dinheiro do povo, mas com povo quem se importa? Rouba muito e muito mais mata os servis que do Estado deveriam ter o mínimo de suporte. Mas o Estado, tristemente, aos vampiros corruptos apenas importa. A impunidade lhes dá poder, na Índia não estamos, mas criaram nova casta. Eles tudo têm e nós limpamos suas fossas. O judiciário, legislativo e executivo promiscuídos, indiferentes ao povo que urra, grita, sofre e morre.
O Brasil em impunidade se afunda, nós na lama e os corruptos de iate.
Olhais os lírios do campo, a impunidade deixou que os corruptos o matassem.
Telefone
Olhai os lírios do campo, eles estão mortos.
Uma criança analfabeta passa o dia na rua, pequenos furtos e mendicância, não há comida em casa, apenas maus tratos; as drogas já se inseriram em sua vida, espantam o frio e a fome. Um dia não mais voltará àquilo que deveria ser um lar, encontrará o remedo de uma família na rua. O caminho da marginalidade a levará a crimes maiores e seu fim será precoce, não antes de propagar o mal multiplicado, o mal que foi vítima, o mal que poderia ser evitado.
Um pai morre no corredor de um pronto atendimento. A instituição não tinha medicamentos, não tinha leitos suficientes; os seus médicos (mal remunerados) assim como seus funcionários não dão mais conta do recado, faltam recursos ao hospital público. O defunto por não ter dinheiro, foi morto, pena capital ao miserável. Sem emprego há muitos anos, vivia de bicos, quando não estava embriagado no boteco, pois a caninha saia mais barata e sua vida era insignificante, não valia à pena. Sua mulher ainda não se sabe viúva e seus filhos estão na rua. Talvez, um ou mais não voltem.
O idoso no depósito (com o nome pomposo de asilo) fez uma refeição, o estômago doído, comida vencida. Mas melhor doído do que vazio, às vezes nem comida estragada serviam. Seu companheiro ao lado, fede, não se sabe porque há horas não limpam suas fezes, ou porque as suas feridas estão mais podres. Médico lá nunca viu, nem ao menos enfermeira. Percebe sem ânimo larvas na ferida de seu companheiro. Nem mais a saudade do nordeste sente, fome e frio ainda sente. O que não sabe ele nem o estômago doído é que um dos seus doze filhos em maca de hospital está inerte e frio.
Ah, gordo, culto e bem servido, lá está o funcionário público eleito, dono de vasto império. Fortuna fez em roubalheiras, tem canais de rádio e televisão, dezenas de empresas e até fantasmas como funcionários lhe servem bem. Alimenta-se do dinheiro do povo, mas com povo quem se importa? Rouba muito e muito mais mata os servis que do Estado deveriam ter o mínimo de suporte. Mas o Estado, tristemente, aos vampiros corruptos apenas importa. A impunidade lhes dá poder, na Índia não estamos, mas criaram nova casta. Eles tudo têm e nós limpamos suas fossas. O judiciário, legislativo e executivo promiscuídos, indiferentes ao povo que urra, grita, sofre e morre.
O Brasil em impunidade se afunda, nós na lama e os corruptos de iate.
Olhais os lírios do campo, a impunidade deixou que os corruptos o matassem.
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Vassalo das Letras.
Telefone
Estava com algumas dúvidas existenciais e, confesso, entediado. Resolvi ligar par Deus.
Tuuuuuu... Tuuuuuu...Tuuuuuu... Tuuuuuu... Tuuuuu
__ Alô, você!!!! Obrigado por ter ligado para o Paraíso, sua ligação é muito importante para nós. Se quiser expiar seus erros disque 1; se quiser ouvir uma mensagem de esperança, disque 3; se quiser saber qual a sua missão na terra, disque 5; se quiser falar com um dos nossos atendentes, disque 7. Avisamos que sua ligação será deduzida de seus dias na terra. Não estamos atendendo sacerdotes pedófilos. Os vistos para anjos caídos ainda continuam suspensos... Se quiser expiar seus erros disque 1; se quiser ouvir uma mensagem de esperança, disque 3; se ...
Aperto o número 7. A música gregoriana invade meu ouvido.
__ No momento todos nossos atendentes estão ocupados. Aguarde alguns minutos ou ligue depois.
Permaneço eu e os Cantos gregorianos. Levanto do sofá e vou ao escritório, pensando na mobilidade que o telefone sem fio nos confere. Ligo o "PC" e após alguns segundos, conecto-me a Internet. Aproveito para jogar papo furado no "msn". Vinte e três minutos depois, escuto uma vozinha estridente, anasalada, monótona e irritada.
__ Anjo Tinothiel, boa noite. Desculpe a demora. Anote o número de seu protocolo: um quinquilhão e três milhões, seiscentos e sessenta e seis mil.
__ Boa noite, por favor Deus está?
__ Ele está em todos os lugares. Antes preciso atualizar seu cadastro.
__ Ok.
__ Nome completo?
__ Antonio Claudio Druzian.
__ Religião?
__ Sim senhor, religião...
O tom seco e impessoal já estava me causando uma leve irritação. Senti minha intimidade ameaçada, mas firme no propósito de falar com Deus, passei a informação.
__ SRD.
__ SRD, senhor?
__ Sem religião definida.
__ Desculpe-me, senhor Essa opção não consta em nosso sistema.
__ Ok... Escuta, preciso mesmo de um rótulo?
__ Senhor, sou apenas um funcionário do Altíssimo, se quiser posso passar o senhor para nosso setor de reclamações. Mas devo informar que o tempo de espera é de três séculos.
__ Trezentos anos? Não, não precisa. Coloque aí xintoísta.
__ Data de nascimento?
__ Vinte e quatro de julho de mil novecentos e setenta.
__ Estado civil?
__ Casado.
__ Sexo?
__ Gostoso e bem feito...
__ Não entendi, Senhor.
__ Masculino.
__ Opção sexual, senhor?
__ Isso faz diferença para Deus?
__ Para o Onisciente e todo Poderoso não. Mas preciso preencher os campos. Hetero, homo ou bisseual, por gentileza.
__ Hetero.
__ Endereço?
Passei todos os dados, além do meu RG, CPF, cor que mais gosto, time, roupa e muitas outras coisas que jamais me perguntariam.
__ Obrigado, Senhor. Seu cadastro está atualizado. Em breves instantes, o Onipresente estará falando com o Senhor.
__ Disponha.
__ Gostaria de obter alguns de nossos serviços? Proteção angelical? Seguro contra tentações e ou possessões demoníacas? Manual prático de como montar uma religião bem sucedida? Ou nosso mais recente best seller: "O Retorno do Messias, Mitos e Fatos?
__ Não.
O canto Gregoriano volta, retorno as conversas no msn. A pessoa com quem eu queria conversar havia se cansado da espera e saído. E parece que brava, pois nem se despediu. Meu ombro direito começou a arder, pela posição incômoda de reter o fone em meu ouvido. Minha orelha quente e suada sofre.
Uma hora e dezessete minutos depois.
__ Desculpe a demora, Senhor. Nosso Pai Celestial está em reunião. Quer retornar depois?
__ Mas que inferno!
__ Parece que houve um equívoco.Pensei que queria falar com o Altíssimo. Vou passá-lo para o ramal do subsolo. Lúcifer sempre está disponível.
__ Não, não. Foi só força de expressão. Quero falar mesmo é com o Divino...
__ A força é sua, a expressão é nossa.
Escuto uma gargalhada do outro lado da linha. O tal do anjo está tirando um sarro da minha cara. Pior que o som que emite ao rir parece de um porco sendo estripado Se estava irritado, agora estou puto, mas me seguro.
__ Não entendi...
__ Desculpe-me, piada interna, senhor!
__ Sei...
A música gregoriana retorna. Começo a questionar se vou poder apreciá-la depois disso sem me sentir enjoado. Duas horas depois, já tinha visto as notícias, escrito bobagens no "Twitter", postado vídeos no "Facebook" e comentado as ações de alguns amigos; e nada, só música de monges.
Escutei o clique.
__ O Onipotente falará com o senhor agora, são proibidas as perguntas sobre times esportivos, nacionalidade do Altíssimo, sobre como surgiu o mundo, sobre evolucionismo ou sobre qual é a melhor religião. Não nos responsabilizamos por envelhecimento precoce, insanidade ou morte fulminante ao falar com Deus. O Senhor concorda com os termos, sobre pena de destruição de sua alma imortal?
__ Concordo!!!!!
Meu coração vem a boca, finalmente vou falar com Deus, e o melhor vou ouvi-lo! Finalmente, vou ter minha epifania. A adrenalina me consome.
Tu Tu Tu Tu Tu Tu Tu Tu Tu Tu...
__ Merdaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
A ligação caiu. Desesperado, disco rápido o número celestial.
Tuuuuuu... Tuuuuuu...Tuuuuuu... Tuuuuuu... Tuuuuu
__ Alô, você!!!! Obrigado por ter ligado para o Paraíso, sua ligação é muito importante para nós. No momento nossos ramais estão congestionados, ligue mais tarde. Obrigado pela compreensão.
Desligo. Vociferando contra a mãe inexistente do anjo. devolvo o telefone a base. Sinto-me como um menino a quem fora oferecido um lindo e cheiroso doce e que quando ia mastigá-lo, tiram-no dele e dão lhe um tapa no rosto.
Pego o calminex e passo no ombro dolorido. Meu ouvido está com um estranho zunido. Vou ao banheiro e me distraio com o jorro de minha urina. Bendita próstata. bebo um bom copo de água gelada e retorno ao escritório.
Abro o editor de texto e começo uma historiazinha sobre um telefonema, um anjo babaca e uma ligação perdida.
Não antes de pensar que Lúcifer também não teria me atendido. Está há muito de férias. Fazemos bem o serviço dele.
*
Vassalo das Letras.
Homem de Dumbledore
J.K. é a dona, só estou me divertindo. E não estou ganhando dinheiro com isso.
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AnaNinaSnape,
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AnaNinaSnape.
Homem de Dumbledore
AnaNinaSnape
Pares: Severus/OC
Censura: R/M, (cenas fortes – sangue, tortura, sexo)
Gênero: Romance, Aventura, Drama
Spoilers: Spoiler de todos os livros (principalmente HP6)
Disclaimer:
J.K. é a dona, só estou me divertindo. E não estou ganhando dinheiro com isso.
Por favor, não me processe, eu não tenho nada.
Agradeço a todos os bons autores que li. Com certeza muito influenciaram.
E como disse um deles, se você reconhecer algo, não é meu.
...
Cap. 01 - Mergulho
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Cuspiu.
Sem ver o sangue que sujou o chão enquanto se dirigia à porta.
Balançou a cabeça para tirar o cabelo do rosto e poder enxergá-la; um dos braços pendendo inerte. Ergueu o outro, sem se incomodar se sua mão deixou um rastro de sangue na maçaneta.
Apertou os lábios com a dor.
Entrou. Deixando que a semi-escuridão o envolvesse.
Ignorou o sofá; não levantaria mais se cedesse à tentação.
Continuou até a estante de livros que disfarçava a porta. Os passos na escada eram lentos. Arrastados.
Sentiu o gosto ácido do sangue. Ouvindo o silêncio.
Fechou os olhos por um segundo exato. Olhou para o corredor onde havia mais duas portas. Respirou.
Amaldiçou sua estupidez ao sentir a pontada nas costas, sussurrando palavras feias; imóvel.
Vociferou internamente também contra Draco que...
Nenhum sentido continuar por esse caminho.
Sentiu um aperto no peito, que nada tinha a ver com suas costelas quebradas, diante da lembrança. Junto com a raiva.
Maldito fosse Dumbledore por obrigá-lo a... Enfoliu em seco, sem se atrever a terminar o pensamento.
Fechou os olhos novamente, encostando-se na parede, mordendo os lábios até sentir o gosto do sangue que voltou a escorrer do corte em sua boca.
Mas as imagens não pararam...
Nenhuma piedade. Nunca tinha havido. Não para ele.
Não pôde se impedir: gemeu. Não da dor em seu corpo; mas de outra...
Dumbledore.
- Eu te amaldiçôo! - rosnou para o nada, ignorando a dor em suas costelas, enquanto aquela em seu coração se tornava insuportável - Eu te amaldiçôo seu velho senil, por me forçar...
Não terminou. Deixou-se cair de joelhos; rosnando quando eles não o agüentaram e fizeram com que desmoronasse no piso frio.
Levando sua mente de volta à tortura no chão sujo do esconderijo do Senhor Escuro. De volta à insatisfação silvada por aqueles lábios finos e à raiva nas fendas vermelhas onde deveriam estar os olhos, na face que lembrava um réptil.
E que não perdoava.
Mesmo que tivesse assassinado por ele. Contrariara "suas" ordens para Draco e revelara seu "disfarce".
E isso não podia ser... tolerado.
Mas matara o diretor e por esse motivo ainda estava de pé ao voltar.
Torturado. Mas de pé.
Os olhos deram com uma migalha no chão. Piscou. Lembrando-se de outras que viviam presas numa barba branca e comprida.
'Merlin.'
Ele o matara.
Fechou os olhos, a garganta apertada com angústia. A mente tomada por imagens horríveis.
E lembranças...
Nenhum consolo por ter impedido uma quase criança de se tornar um assassino.
Nenhum por não ter deixado que torturassem o Potter do inferno!
Merlin, ele o matara!
Era um assassino.
Matara o único que demonstrara qualquer...
Sentiu-se sufocar.
Seu único amigo.
Um som terrível saiu de sua garganta.
E então...
Tudo foi escuridão.
*
AnaNinaSnape,
Bruxa.
" Estava acontecendo outra vez.
O pavor. Os sons inarticulados de sua garganta.
O coração disparado. A sensação de estar presa.
Vendo pela fresta do armário, seus pais morrerem.
Deitados no chão do quarto. Tão perto. Tão longe. Enquanto estava paralisada.
Impotente.
No escuro. Cercada de luz. Presa. Protegida.
Deles.
Não do que faziam.
Não da angústia. Ou do pânico.
Seu pai a menos de meio metro. Sendo seguro no chão, tendo sua mão cortada. O grito. O braço mutilado seguro por um dos homens com máscaras de prata, esguichando sangue em sua direção, através das frestas. Em sua roupa. Em seu rosto. Em suas mãos.
Olhou para elas. Gritou. Um grito horrível. Mas nenhum som saiu.
Levou uma das mãos à garganta, sujando-se mais de sangue. Respirando muito rápido.
Gritou de novo. O horror entrando nela. Tomando conta.
As vestes pretas ficando sujas de vermelho. Como ela. O sangue por todo lado. Sem retorno.
Fazendo-a ficar histérica.
Sem poder se desviar do que acontecia. Sem conseguir fechar os olhos. Chorando.
Batendo na porta até suas mãos ficarem feridas. Vendo...
Sua mãe sendo estuprada. Uma. Duas. Três vezes.
Seu pai sendo torturado; virado de cabeça para baixo, caindo. Assistindo sua mãe e seus gritos, enquanto sangue saía de sua boca, de seus ouvidos. O sangue esguichando de sua outra mão através do quarto, atingindo-a novamente por entre a fresta.
E então as súplicas.
- Não, p-por favor... p-por favor... – ouviu o choro de seu pai quando sua mãe parara de gritar.
Tapou os ouvidos com as mãos sangrentas. Fechou os olhos. Gritou de novo. E de novo. E de novo.
Nenhum som. Começou a ficar difícil respirar. Estava afogando-se... no ar à sua volta.
Gritou com força.
Acordou.
O pavor. Os sons inarticulados de sua garganta.
O coração disparado. A sensação de estar presa.
Vendo pela fresta do armário, seus pais morrerem.
Deitados no chão do quarto. Tão perto. Tão longe. Enquanto estava paralisada.
Impotente.
No escuro. Cercada de luz. Presa. Protegida.
Deles.
Não do que faziam.
Não da angústia. Ou do pânico.
Seu pai a menos de meio metro. Sendo seguro no chão, tendo sua mão cortada. O grito. O braço mutilado seguro por um dos homens com máscaras de prata, esguichando sangue em sua direção, através das frestas. Em sua roupa. Em seu rosto. Em suas mãos.
Olhou para elas. Gritou. Um grito horrível. Mas nenhum som saiu.
Levou uma das mãos à garganta, sujando-se mais de sangue. Respirando muito rápido.
Gritou de novo. O horror entrando nela. Tomando conta.
As vestes pretas ficando sujas de vermelho. Como ela. O sangue por todo lado. Sem retorno.
Fazendo-a ficar histérica.
Sem poder se desviar do que acontecia. Sem conseguir fechar os olhos. Chorando.
Batendo na porta até suas mãos ficarem feridas. Vendo...
Sua mãe sendo estuprada. Uma. Duas. Três vezes.
Seu pai sendo torturado; virado de cabeça para baixo, caindo. Assistindo sua mãe e seus gritos, enquanto sangue saía de sua boca, de seus ouvidos. O sangue esguichando de sua outra mão através do quarto, atingindo-a novamente por entre a fresta.
E então as súplicas.
- Não, p-por favor... p-por favor... – ouviu o choro de seu pai quando sua mãe parara de gritar.
Tapou os ouvidos com as mãos sangrentas. Fechou os olhos. Gritou de novo. E de novo. E de novo.
Nenhum som. Começou a ficar difícil respirar. Estava afogando-se... no ar à sua volta.
Gritou com força.
Acordou.
Pulando da cama e derrubando o banco que estava perto.
A vara em uma das mãos trêmulas. Ainda tentando respirar.
Sons estrangulados saindo de sua garganta. O pavor. O medo.
Suando profusamente; o quarto entrando lentamente em foco.
E então a raiva. A fúria.
A vara instável apontando para todos os lados.
Procurando um alvo. Qualquer um.
Encontrou.
Olhos negros a encaravam no fundo do quarto.
O feitiço o atingiu em cheio, fazendo com que voasse pelo quarto, até bater numa parede, antes de cair com cadeira e tudo.
O som ecoando."
*
AnaNinaSnape.